quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Yeda e Obama


Já não é de hoje que a Yeda se envolve em conflitos com os professores. Talvez, aliás, esse seja o ápice dos confrontos, como disse um dos caras mais sábios que conheço: "Se essa greve não der certo, o Magistério acabou.". Não discordo dele, até porque o mesmo tem décadas a mais de experiência do que eu em política e educação. Também apóio a greve, também acho uma sacanagem o que ela tá fazendo. Mas acho que o modo com que grande parte das pessoas está encarando isso tudo está errado. Vêem a Yeda como um opressor natural, um monstro que se instalou, repentinamente, no governo do estado. Esquecem-se que ela não está lá por obra de um golpe de estado, nem por indicação direta de uma autoridade superior, nem reivindicando direitos divinos. Esquecem-se que ela chegou lá graças à escolha da maioria dos gaúchos, em uma eleição (até que se prove o contrário) legítima. Esquecem-se que, não fosse o nosso apoio, ela não teria hoje a proteção dos criticados Mendes e Marisa. Isso é preocupante.
Não basta que os transformemos em monstros, em demônios. Não basta atacá-los. Pelo menos não para mim... podem me chamar de louco, utópico, ou seja lá o que for, mas para mim o mais importante é que tomemos consciência que foi graças à nossa ignorância e inocência que ela chegou lá. Ou, como uma amiga disse, foi graças a "um ataque de burrice aguda que deu na população". Também estou muito insatisfeito com a situação em que estamos, e é justamente por isso que acho extremamente importante que toda a "nata" intelectual do Rio Grande do Sul revise os seus conceitos. Sim, pois a eleição da Yeda não foi um fenômeno de massa, como o Lula ou o funk, e sim um acontecimento fortemente sustentado pelos "pensadores" do nosso estado. "- Uma mulher no governo, uma mulher no governo!", era o que gritavam, histéricos, os geniais alunos do nosso brilhante Ensino Médio. E, se alguma desavisada alma ousasse contradizê-los, a única resposta que recebia era uma lembrança honrosa à sua mãe, seguido da palavra "machista" e mais 49 sinônimos dessa palavra. Era só o que sabiam: que queriam uma mulher no governo, e que quem discordava era machista e não merecia ser ouvido. Queriam porque queriam uma mulher no governo. Tiveram o que queriam.
Foi essa onda de ignorância extrema dos nossos novos burgueses que avalizou a posse de Yeda. Curiosamente, são esses mesmos novos burgueses que hoje tanto criticam essa mesma Yeda. Aí está uma pergunta que não sai da minha cabeça: por que a apoiaram, então? Terá sido porque ela era uma mulher? Acho que é uma resposta aceitável. O que me preocupa é que ninguém, ninguém, ainda se deu conta disso: que a Yeda é o que é hoje porque faltou esclarecimento político aos eleitores. Usaram do pretexto da liberdade acima de tudo para deixar que pessoas totalmente sem embasamento no assunto se pronunciassem. Me chamem de fascista se quiserem, mas para mim uma pessoa só pode expressar uma opinião quando ela TEM uma opinião formada sobre o que vai falar. E, por "opinião formada", entenda algo baseado em fatos e reflexões, e não um amontoado de frases clichês apanhadas em uma musiquinha fofinha do Chico Buarque. Quando um presidente vai nomear seus ministros, sempre cobramos dele a escolha de pessoas que entendam do assunto... porém, curiosamente, deixamos pessoas que não entendem nada de política escolher a nossa governadora. Agora, estamos pagando o preço.
Volto a dizer: minha maior frustração com essa revolta anti-Yeda, é que todos querem cortar o mal pelos galhos, invés de cortar pela raiz. Tratam a Yeda como um fato isolado - um cordeiro que se transformou em lobo quando assumiu o poder - e não notam nossa incompetência em sacar as coisas boas e as coisas ruins dos candidatos. Fazem de tudo pra derrubar a Yeda, mas não fazem nada pra mudar essa mentalidade. Quer ver um fato recente que ilustra isso? Pois então tratemos da eleição nos Estados Unidos. Em cada 50 pessoas, 75 torciam pelo Barack Obama. "- Um negro no governo, um negro no governo!", diziam. Tomo a liberdade de dizer que noventa por cento das (poucas) pessoas que lerão esse texto também torciam por ele. Se você for uma dessas noventa por cento, te pergunto: o que tu sabe do Obama, além dele ser negro? Quais são as propostas dele? Qual o passado político dele? Quais suas inclinações? Você sabe? E o fato de ele ser democrata e o Bush ser republicano é tão relevante quanto a Yeda ser do PSDB e o Olívio do PT. Ou seja: quase nada. É preciso saber um pouco a mais sobre um candidato, além de seu partido. Então, será que você sabe o suficiente sobre ele a ponto de ficar feliz por ter CERTEZA de que vai ser algo bom para o mundo?
Espero, sinceramente, que ao final da era Yeda algo tenha mudado na cabeça dos gaúchos. Muito provavelmente não mudará, mas espero que mude. Espero que aprendamos a lição de que a liberdade, em excesso, pode trazer sérios prejuízos. Ou, como dizia Napoleão Bonaparte: "Tudo tem um limite, até mesmo emoções humanas". Claro que minha sugestão não é abolir o sufrágio universal e voltar ao voto censitário, aliás, longe disso... só quero que vocês, estudantes e jovens, adquiram o hábito de pensar antes de agir. Principalmente nas eleições, onde temos que ser frios e calculistas (frase genial da Bianca!), e não nos deixar levar pela cor ou pelo sexo do candidato: o que importa é o caráter dele e suas propostas, não sua aparência, classe ou credo.
Vocês tem as chaves do futuro, caras... na verdade, vocês são o futuro. Vocês, que já nas próximas eleições (ou nas subseqüentes às próximas) estarão votando, é que podem impedir o surgimento de novas Yedas. Tá tudo em vossas mãos, caras, TUDO.

3 comentários:

Nathália Bittencurt disse...

Concordo em tudo, Mestre. Mania que tu tem d ñ assinar.

Cínthia disse...

Ótimo texto,excelente argumento: YEDA=OBAMA.

O triste é saber que a ignorância política continuará existindo e não surpreenderá que a Yeda volte a se eleger a algum cargo,tal como a Neuza Canabarro.

O bom é ver gente que votou nessa "criatura" gritar agora: Fora Yeda.

Seria precioso se de fato hovessem novos intelectuais e pessoas de garra e brio. Raríssimas hoje.

O ponto dos professores foi cortado, a lei nacional e estadual de direito a greve renegado. Afinal, a governadora tem uma certa inteligência, os professores são uns miseráveis,tira o pouco que tem e serão ovelhinhas mansas. Infelizmente os professores não são mais intelectuais. São uns pobres coitados, na maioria contratados,sem nenhum direito trabalhista ou estabilidade que se submetido as piores humilhações nas escolas públicas.

Que não se vote em mulher, homem ou negro. Se vote em pessoas com um passado digno junto as bases, programa político e fidelidade partidária (ao programa partidário).

Eu só aviso uma coisa: votar no PSDB é privatizar o Ensino Público e torná-lo o pior. Veja-se a média do ENEM. Somos os melhores dos piores. Talvez porque ainda hajam professores concursados,que pensam e que tem a ousadia de sair da acomodação e fazer greve, ensinado cidadania aos seus alunos.Encarar uma greve é sinônimo de muita rebeldia,é dizer não ao que não está certo, é até passar dificuldades finaceiras,mas ficar em paz com a própria consciência.

Unknown disse...

Concordo com boa parte do que tu disse. Sempre gostei desse teu jeito intelectual-pessimista. heheh

Mas espero que tu revejas teus conceitos sobre o Obama. Ele, assim como nosso presidente,- que por sinal é tão discriminado quanto e nem é negro- foi um lider sindicalista. O Obama apoiou Kerry em 2004; O Obama ajudou a mudar as leis sobre a pena de morte, ética e perfil racial, trabalhou para os pobres, que eram como ele; Deu aula em uma faculdade de Direito; E, mais importante, ele foi Senador.

Acho que ele tem uma politica feita para quem foi/é tão "desgraçado" quanto ele foi no inicio da vida dele nos EUA. Lembrando, ele era filho de um estudante Queniano e conheceu a mae do Obama em uma aula de russo. Daí tu imagina o quão estranho ele nao era..

Mas é isso aí tche.. Se ele nao der certo, eu volto aqui e peço desculpas, mas no mais, era isso. Abraço.