sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Meu molho de chaves

Abrir essa fechadura não tá fácil, mas e daí?

Na semana antecedente ao ato que ocorreu na segunda-feira do dia 24 de novembro, fiquei sabendo do que estava por vir, e tratei de passar de sala em sala, a fim de comunicar o manifesto para os alunos matutinos. Pois é.

Fui, acompanha por pessoas do Grêmio e a professora Margarida, pessoa que nos dá um suporte muito interessante. Interrompi aulas, falei, falei... Falamos como sempre. Conseguimos ônibus com o DCE da UFRGS, através de nosso presidente Samir. Conseguimos dinheiro para faixas, com os alunos. Mas eu, Nathália Bittencurt, não consegui o que queria.

É, eu já previa... Mas quem me conhece sabe, não adianta, eu tenho sempre que ir ver o que há atrás da porta. Ao falar, vi que o que já havia plantado na cabeça de grande parte dos alunos, mal se mexera. Ninguém - calma, soltem as pedras; falo no geral - realmente ouviu o que eu disse. Como se algum professor pedisse "Façam este exercício, que na aula que vem verei e darei nota". Ora, ninguém - calma de novo - vai fazer naquele dia, farão justamente na próxima aula. Infelizmente, pessoas não se interessam. Foram pouquíssimos alunos no protesto, pouquíssimos. Por quê não foram? Eu sei.

Quando há manifestos envolvendo alunos, o que é mostrado na mídia? As brigas. Brigas de? De gente que não vai lá pra gritar por ideal nenhum, não vai cantar e caminhar por melhora nenhuma, não vai lá pra representar nada além de "zonas". E num olhar atravessado com outro estudante, ao julga-lo ser de outra "zona", acaba com qualquer avanço em nosso meio e começa uma discussão, uma briga, dá prato cheio aos repórters, aos verdadeiros interessados por trás, a quem quer intimidar a sociedade dizendo "Olhem, é isso que acontece em protestos, não vejam isso, tranquem seus filhos, comam Ruffles".

Há quem ache que sua presença não moverá uma palha. Então digo: NÃO É indo lá e participar um pouco que conseguiremos depor alguém, mudar a cidade e gritar que vivemos num país melhor, mas são esses atos que cutucam quem está sentado na melhor poltrona dos palácios, é esse barulho nas esquinas da cidade que faz os cidadãos pararem uns cinco segundos pela rua e pensar "Algo está acontecendo, essas pessoas querem mudar algo", e então se ligar de que algo precisa ser feito, e só espera por nós pra apertar o start.

Na quarta-feira seguinte houve novo ato, mas desta vez estadual, em frente ao Palácio Piratini, com muita gente. Estavam ali por sua classe; seus problemas, os professores, como nós alunos também estivemos em março deste ano contra a enturmação, lembram? Pois é, estávamos lá, tentando algo.

No dia em que fui com o colégio, arrisquei-me em cima de uma combi de som, falei algumas coisas, bem não lembro. Mas sei que fui lá por alguém, por algo, por mim mesma, por acreditar ser essa Nathi de todos que sou. Inspiração? Nei Nordin, que minutos antes me concientizara da sociedade individualista na qual vivemos. Perguntei "Então não tem jeito, sôr?" e ele respondeu: "É mais ou menos por aí."

Agora bem sei, não faço parte disso. Vou e vou, não interessa se a TV me diz que lá há violência (porque sei que, se lá houverem pessoas que saibam o motivo de estarem lá, não haverá txu txá), se talvez eu não tenha êxito. Eu quero é ver o que há atrás da porta.


Nathália Bittencurt.

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