quinta-feira, 25 de setembro de 2008

(Espaço do Aluno) "O pecado original"

"Acho que envelheci uns 10 anos nessa última semana. A vida guarda essas pequenas catástrofes para todos, independentemente de raça, cor ou credo.
Com o passar do tempo, a vida vai confeccionando cicatrizes por todo o nosso rosto, tornando nosso sorriso cada vez mais cruel, sarcástico, frio, distante... mas, na verdade, não é "a vida" em si que faz isso, e sim a convivência em sociedade da humanidade. Ela oprime e desvirtua as pessoas de forma que ninguém - ninguém - escapa sem a desilusão e o arrependimento por algo. À medida que vivemos e convivemos com outras pessoas, vamos desenvolvendo preconceitos e códigos que não são senão a própria anti-vida, uma forma de censurar tudo que há de belo nessa existência. Assim, matamos a felicidade... pois essa nada mais é do que a sensação de beleza.
Todos nós, ao longo de nossas vidas, cometemos o pecado original, que nada mais é do que deixar que a humanidade seja mais presente em nós do que a animalidade. Assim como tudo na Bíblia, a história do pecado original é uma metáfora, porém é possivelmente a mais mal-interpretada de todas. Está escrito que Adão e Eva só se sentiram envergonhados por estarem nus após comer a fruta proibida, ou seja, só conheceram a angústia racional quando tentaram se tornar maiores do que são, e tentarem decidir quais regras iriam seguir e quais não iriam (em outras palavras, quando tentaram tomar as rédeas das suas próprias vidas). Da mesma forma, abdicamos da felicidade quando tornamo-nos adultos e decidimos trazer para nossas mãos a responsabilidade por nossas vidas, e por como interagimos com a sociedade. Não é possível ser genuinamente feliz enquanto se está preocupado com tantos problemas, e tantas responsabilidades corroem o nosso coração. Não fomos programados para isso. Não podemos nos julgar tão grandes a ponto de sermos maiores do que a própria vida. A humanidade colocou as leis do mundo de cabeça pra baixo: ela quer governar a vida, enquanto o certo seria que a vida nos governasse e ditasse o nosso destino. Somos felizes quando amamos porque simplesmente deixamos que a vida nos leve, e não nos aborrecemos com picuinhas intelectuais. Se fizéssemos disso via-de-regra, seríamos sempre felizes. Portanto as regras estão erradas, os conceitos estão errados, os dogmas estão errados, está tudo errado!
A busca da humanidade pela felicidade nada mais é do que uma caça à baleias praticada no Saara. E nós, filhos da revolução sexual, somos um bando de cegos, num quarto escuro, à meia-noite, procurando por um gato preto, que não está lá! E não podemos mudar isso."


Publicado dia 24 de setembro de 2008, em http://emocracia2.blogspot.com/

2 comentários:

Nathália Bittencurt disse...

Sensacional, tudo. Adoro essa teoria do gato preto, e amo os textos desta pessoinha aí... Te amo, viu, Mestre?

Unknown disse...

Muito bom o texto.